Primeiro os criadores adquirem um cavalo para só depois se perguntarem: E agora? O que fazer? Onde colocá-lo? Como vou alimentá-lo? Criar ou passear a cavalo? Quem vai cuidar dele? Veja algumas dicas importantes para quem quer iniciar corretamente sua criação.
Local Adequado
Se você não possui uma propriedade (sítio, chácara, haras ou fazenda), primeiro tente visualizar quais são seus objetivos. Pense se você pretende apenas passear aos finais de semana ou se, além disso, gostaria de acompanhar o desenvolvimento do animal mais vezes por semana. Pense se você quer ter um número maior de animais, se deseja acompanhar a reprodução dos mesmos ou ainda prepará-los e levá-los à exposição. Ou seja, reflita se você deseja realmente iniciar uma criação.
Se você pretende apenas curtir bons momentos com sua família, e fazer prazerosas cavalgadas de fins de semana, pode-se optar por deixar seu animal em cocheiras de aluguel onde este terá a infraestrutura local à disposição. Neste caso certifique-se de que o animal está bem alojado, com água à vontade, local limpo e arejado, com pessoas capacitadas para cuidar dele. E sempre bom lembrar que nesses locais deve-se dar preferência a éguas ou animais castrados, principalmente quando o local não dispuser de cocheiras de alvenaria e ou piquetes para garanhões. Estes últimos são mais intempestivos por sua própria condição hormonal e exigem maior cuidado do local para não oferecer riscos aos demais animais da propriedade e a ele mesmo, que pode se machucar tentando ir atrás de alguma égua, haja vista geralmente esses locais não terem uma infraestrutura adequada para esta categoria de animal.
Ao contrário, se seu intuito é no futuro ir além dos passeios, iniciar uma criação em cocheiras de aluguel é contra-indicado, pois você necessitará de maior infraestrutura e independência. Procure encontrar uma propriedade próxima, de fácil acesso, de modo que seja prazerosa a viagem para você e sua família. Veja se a propriedade tem tamanho adequado a sua aspiração (quanto maior o número de animais maior deve ser a propriedade). Verifique o tamanho a partir da área aproveitável da fazenda (área restante fora a área de mata). Veja ainda se tem capineiras ou se você precisará fazê-las. Observe se tem bom abastecimento de água como é a topografia, se tem área plana para pista e piquetes (estes últimos também podem ser em morros não multo íngremes).
As instalações
Se você optou em construir as baias, de preferência a trincheiras de alvenaria, e que estas tenham tamanho que proporcione conforto a seus animais. Por exemplo, 3x3m2 dá um bom conforto para um único animal. Se o local é quente, dê preferência por pé direito mais alto, que facilite a ventilação. A porta dupla da cocheira, além de servir para melhora da ventilação, também é um fator de socialização dos animais, que podem ter contato visual uns com os outros.
Os cochos de água e comida podem ser dispostos de várias formas, sendo que as que proporcionam melhor rendimento de espaço são as dispostas nas quinas da cocheira. Lembre-se de que o acabamento das mesmas é fundamental para a manutenção da higiene; colocando sempre os cantos arredondados você facilita a limpeza dos cochos e as quinas também sem pontas evitam acidentes com os animais. Pode-se ainda fazer um pequeno cocho, ou uma espécie de reentrância lateral ao cocho de alimentação, destinado à mineralização deste animal (cocho de sal) ou optar por encaixes plásticos na parede caso queira utilizar o sal em formato de pedra.
Dê preferência a sistemas automáticos para os cochos de água (boias, etc.) de modo a garantir que seu animal não fique sem água em nenhum momento.
Importância da higiene
A higiene dos cochos deve ser realizada uma vez por dia. Após o animal se alimentar, o tratador deve sempre retirar os restos de alimentos que porventura venham a ficar nos cochos, de modo a evitar fermentação deste alimento, que pode gerar distúrbios gastrointestinais (cólicas). Esta prática é importante ser observada, porque volta e meia temos notícias de que determinado animal se alimentou posteriormente de restos puros, ou mesmo misturados à próxima ração/capim ou o que vier a ser ofertado naquele cocho, e depois passou mal.
Outra coisa importante de ser observada é quanto à higiene da picadeira. Ao utilizar capim picado para alimentação, é bom lembrar que a higiene da picadeira é fundamental para que não ocorra também fermentação dos restos de alimentos. Além disso, o ideal é que o capim ou outro volumoso depois de picado seja imediatamente ofertado ao animal, evitando ficar cortado de um dia para outro ou por vários dias.
Não podemos esquecer da cama dos animais, ou seja, o revestimento do piso da cocheira (que deve ser projetada com sistema de drenagem para os dejetos dos animais), que pode ser de serragem/maravalha, preferencialmente da cor branca, pois a vermelha, além de “manchar” a pelagem tordilha principalmente (o animal sempre precisará estar sendo banhado para completar a limpeza), algumas vezes ocasiona alergia em animais mais sensíveis. Deve-se também evitar o pó de serragem, que pode vir a ocasionar alergia respiratória nos animais. A cama também pode ser feita de areia, pisos de borracha cobertos com serragem, capim seco/palha entre outras.
As camas devem ser limpas diariamente, sendo os restos de urina e as fezes recolhidas e dispensadas em estrumeiras (local fechado, reservado para o despejo das mesmas). É importante verificar que só após a secagem das fezes frescas e que elas podem ser utilizadas como adubo, pois o seu uso direto como adubo de pastagem pode gerar recontaminação da pastagem, com vermes fechando assim um ciclo, o que torna difícil o controle de verminoses no plantel, uma vez que os animais estarão ingerindo capim previamente contaminado. A serragem (ou outro material) deve ser reposta sempre que a cama ficar muito baixa de modo a proporcionar conforto ao animal, evitando lesões do corpo do mesmo em caso de contato direto com o piso duro da cocheira.
Piquetes e capineiras
Seu animal precisa se alimentar corretamente e ter espaço para se exercitar. Certifique-se de que você tem área suficiente para divisão de piquetes e manutenção de capineira. De modo geral você precisará dividir os piquetes por categoria de animal: éguas vazias, éguas com potro ao pó, égua que estejam para parir, potros até 11 meses, potros maiores de 11 meses, separando agora os machos das fêmeas, piquete separado e com boa distância dos demais para o garanhão, piquete para os animais de sela e serviço.
Terá também que decidir quanto à metragem, cerca (madeira, arame-tipo, elétrica), tipo de pastagem, melhor capim para os cavalos, que se adeqüe ao clima, solo e topografia de cada região, assim como fazer o correto manejo e rotação de piquetes e pastagens. Isto tudo vai depender não só da quantidade de animais, mas também da área disponível, além da disponibilidade financeira e oferta de cada região. Neste momento, para evitar problemas futuros, o melhor é consultar um profissional da área (zootecnista, agrônomo ou veterinário), a pessoa mais indicada para lhe orientar e adequar à teoria a sua prática.
Se você tem espaço, nem todos os animais precisarão necessariamente viver embaiados. Mas se você dispõe de pouco espaço, o melhor é fazer uma rotação dos animais de modo a que todos sejam soltos pelo menos quatro horas por dia. O ideal é que esses animais fiquem soltos durante o dia e sejam recolhidos uma a duas vezes por dia, para que seja feita a alimentação em cocho (consulte um veterinário,/zootecnista para lhe orientar melhor sobre quantidade e tipo de alimentação para cada categoria animal), limpeza de cascos (ranilha), corpo, casqueamento, inspeção geral, ou seja, conferência se existe algum ferimento ou se já está na hora de se fazer algum controle de ectoparasitos (carrapatos), casqueamento, etc. O único animal que se aconselha a manter encocheirado durante a noite é o garanhão; os demais podem ser mantidos a pasto (dependendo obviamente da condição do pasto-topografia, do estado de saúde dos animais e alimentação dos mesmos à região).
Mão-de-obra
Procure mão-de-obra especializada, mas caso não consiga invista em sua mão-de-obra, oferecendo aos seus funcionários cursos de manejo e primeiros socorros de eqüínos, que podem ser oferecidos pela ABCCMM, através de instrutores credenciados, ou por órgãos como o SENAR de seu estado. Você verá que a formação de um profissional capacitado lhe renderá grandes economias futuras.
É de suma importância que seu tratador tenha alguma noção sobre cavalos, ou seja, saiba reconhecer os sinais de anormalidade no comportamento do mesmo, para que em caso de algum problema possa chamar o veterinário em tempo hábil. Assim como não ferir o cavalo e fazer com que ele se machuque na lida diária com o animal.
Importante também que seu funcionário que seja uma pessoa responsável, que cuide dos animais com interesse, que saiba cumprir ordens e orientações, principalmente no que tange ao horário e quantidade das alimentações, no manejo diário e cuidados com a limpeza/saúde do animal.
Mantenha sempre contato com um veterinário especializado em cavalos, e evite que curiosos tentem resolver os problemas de saúde deles. Este tipo de conduta, também muito comum no meio, pode comprometer ainda mais a saúde do animal e a economia que você acha que pode estar fazendo lhe custará muito mais caro. Assim que começar sua criação peça um atendimento de um veterinário ou técnico especializado, que possa lhe auxiliar na instrução de seu tratador quanto a questões de manejo alimentar, saúde e profilático.
É sempre melhor prevenir do que remediar. Preste atenção nas datas de vermifugação periódica e vacinação. De modo geral, as vacinações anti-rábica, antitetânica, contra Encefalomielite e gripe (lnfluenza) são quase que obrigatórias em qualquer plantel que queira se manter saudável. Existem outras indicadas conforme as necessidades específicas de cada plantel e cada região. Portanto, consulte seu veterinário!
Fonte: Kate M. C. Barcelos – Médica veterinária, instrutora de Equitação/ENA e arbitra Nacional de Adestramento pela Confederação Brasileira de Hipismo
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