É claro que…SIM! Por quê? Por vários motivos. Em primeiro lugar, o cavalo que conhecemos hoje vive em um ambiente completamente adverso daquele que seria natural para ele. Em condições naturais, os cavalos passam mais de 50% de seu tempo pastando. Este comportamento gera um desgaste natural dos dentes, que no sistema atual de manejo, freqüentemente não acontece. Sem este desgaste, os dentes formam ganhos e pontas que provocam ferimentos no interior da boca do cavalo, causando desde dor e consumo inadequado da ração até a má digestão dos alimentos que não são mastigados como deveriam.
“O eqüino é um animal de pastoreio contínuo. Os lábios são as principais estruturas de apreensão e os incisivos são responsáveis pelo corte da forragem no pasto. Durante o pastoreio, os lábios são puxados para trás e permitem que os dentes incisivos cortem a grama em sua base.
Animais soltos em pastagem normalmente gastam 10 a 12 horas diárias comendo em sessões que duram de 30 minutos a 3 horas. O mesmo acontece com os eqüinos confinados em piquetes com acesso a feno à vontade.
Diferentemente destes animais, o cavalo confinado em baia, que come rapidamente seu concentrado e tem acesso a limitada quantidade de pastagem, não usa seus dentes incisivos para cortar. Desta forma, devido ao menor atrito, os incisivos tornam-se mais longos que o normal, impedindo que os dentes molares e pré-molares tenham um contato adequado para triturar os alimentos e iniciar o processo de digestão de forma satisfatória.
A amplitude do movimento da mandíbula durante a mastigação é afetada pelo tipo e tamanho das partículas ingeridas. Os cavalos alimentados com concentrados e fibras trituradas ou picadas tem o movimento lateral da mandíbula menor quando estão mastigando se comparados com aqueles em pastoreio livre ou alimentados com feno de forragem de haste longa.
O cavalo adulto possui seis incisivos superiores e seis inferiores. Estes dentes apresentam a forma temporária (dente de leite) e a permanente. As arcadas superior e inferior possuem 3 dentes pré-molares e 3 molares de cada lado da boca. Os pré-molares também apresentam as duas formas (temporária e permanente) enquanto que os molares apresentam somente a permanente. O período de 2 a 5 anos é de fundamental importância para a saúde da arcada dentária dos cavalos. Neste período ocorrem 24 mudas e erupções de dentes. Qualquer retenção ou atraso na erupção de um dente afetará o desgaste normal e terá conseqüências para o resto da vida do cavalo. Outra característica importante da anatomia dentária dos eqüinos é a largura e a inclinação das arcadas. A arcada inferior é mais estreita que a superior tanto na distância entre os ossos quanto na área da superfície dentária. Isto favorece a formação de pontas próximas à língua na arcada inferior e junto à bochecha na arcada superior quando a mastigação não é adequada. Durante a mastigação, a mandíbula realiza um movimento circular de um lado para o outro com um limitado movimento de frente para trás. Em um boca “bem balanceada”, a mandíbula move-se livremente de um lado para outro e é possível ouvir o barulho dos molares e pré-molares raspando uns sobre os outros durante a trituração dos alimentos. O cavalo pastando ou alimentado com feno à vontade têm uma movimentação lateral das mandíbulas ampla ou completa. Já animais com acesso limitado a volumoso ou alimentados com volumoso triturado, têm movimentação lateral das mandíbulas limitada. Esta alimentação não promove um desgaste apropriado dos dentes pré-molares e molares, favorecendo o aparecimento de pontas.
Para compensar o desgaste natural dos dentes, os cavalos possuem dentes com longas raízes que promovem a erupção dentária contínua ao longo da vida do cavalo. Esta erupção contínua ocorre a uma taxa de 2 a 4 mm por ano. Este é o motivo que indica que as pontas devem ser aparadas anualmente. A seguir estão relacionados alguns dos principais sintomas de problemas odontológicos:
– falta de apetite
– demora para comer, ou come de forma pausada
– dificuldade de mastigação com o alimento caindo da boca
– durante a mastigação a saliva sai da boca
– dificuldade de apreensão do alimento
– mau hálito
– cólicas, impactação de esôfago e diarréia
– dificuldade de ganho de peso, magreza
– dor facial, com ou sem presença de deformação do crânio
– alterações e dificuldades de equitação (cavalo “briga” com a embocadura, tem dificuldades de virar para um ou ambos os lados etc.).
– sangramentos pela narina
– sinusite
– obstrução respiratória
Como descobrir se o cavalo apresenta problemas de mastigação:
1. Histórico: verifique se o cavalo já teve problemas anteriores.
2. Observe a mastigação: veja se a mandíbula movimenta-se livremente, se há dificuldades para apreender os alimentos; faça este teste oferecendo forragem de hastes longas.
3. Apalpe o crânio e as arcadas: veja se há sinais de inchaço ou deformidade ou presença de pontas ou ondulações na arcada, que são perceptíveis ao tato por fora da cabeça; como referência, trace uma linha reta do final do olho até a arcada dentária do cavalo e este é o ponto de localização do último molar.
4. Afaste os lábios do cavalo: verifique se os dentes incisivos têm formato normal; qualquer anormalidade irá refletir sobre toda a arcada e na mastigação e digestibildade.
5. Verifique o aspecto das fezes: as fibras devem ter tamanho máximo de 1 cm e não apresentar grãos inteiros.
Estas diretrizes podem facilitar o diagnóstico de alguns dos casos de distúrbios odontológicos. Um diagnóstico completo só pode ser feito com o uso de equipamento adequado e por um especialista da área.”
Fonte: Luiz Fernando Rapp de Oliveira Pimentel – Médico Veterinário
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