Matrizes: O futuro de sua tropa depende delas!

Quem nunca ouviu aquela popular expressão: “Quem faz tropa é a égua”? É a mais pura verdade! As reprodutrizes devem ser muito valorizadas em uma criação de Mangalarga Marchador, porque contribuem com 50% da carga genética dos produtos, desempenhando grande importância na evolução de um rebanho, já que o número de matrizes geralmente é superior ao de garanhões. Com superioridade genética devem ser exploradas na reprodução, ainda mais com a técnica de transferência de embriões, que permite que uma égua tenha maior número de filhos por ano. Assim como nos reprodutores, três pontos essenciais devem ser observados: características do indivíduo, ascendência (pais e avós) e descendência (filhos).

Algumas precauções especiais devem ser tomadas no manejo diário dessas Mangalarga, envolvendo nutrição equilibrada e balanceada, controle da sanidade, técnicas de reprodução adequadas e medidas que promovam bem-estar a esses animais.

Quanto à alimentação, as necessidades nutricionais variam de acordo com cada categoria, levando-se em consideração, principalmente a idade e a situação reprodutiva. Temos que atender aos requisitos de mantença e crescimento, de nutrição do feto e de produção de leite. No final da gestação, mais especificamente durante os três últimos meses, as necessidades da Mangalarga prenha aumentam consideravelmente. Esse fato acontece devido ao grande desenvolvimento do potro nesse período, estimado em torno de 70%.

Nesse terço final, as éguas prenhas, doadoras e receptoras dever ser alimentadas com forrageiras de boa qualidade e a complementação da dieta com concentrados (“rações”) devem acontecer. A alimentação utilizando somente volumosos (capins) não é o suficiente para suprir as necessidades nutricionais da égua e do potro, o qual está em pleno crescimento dentro do útero materno.

O fornecimento de concentrado deve ser suspenso uma semana antes do parto e deve permanecer até uma semana depois, evitando-se a ocorrência de diarreia nos potros pelo excesso de colostro e leite produzidos. A partir dessa primeira semana, as éguas lactentes devem voltar a receber concentrado, além de forragem ou feno de qualidade, para que atinjam boa produção leiteira.

Éguas a Pasto

Essa suplementação deve ser mantida até os três meses após o parto, momento este que ocorre a queda natural da curva de lactação. Durante este tempo, somente o leite supre as necessidades do potro. Com o declínio da produção de leite, as éguas não precisam mais serem suplementadas com alimento concentrado, a não ser que estejam com baixa condição corporal, ou seja, magras. Quem deve ser suplementado a partir de então são os potros. Portanto, éguas a partir do terceiro mês após a parição podem ser mantidas exclusivamente a pasto, até entrarem novamente nos últimos três meses da próxima gestação. Éguas gestantes e lactentes são muito exigentes em relação à suplementação mineral e vitamínica. Misturas contendo esses dois nutrientes devem estar constantemente disponíveis.

Aproximadamente de duas a três semanas antecedentes ao parto, as éguas devem ser alojadas em piquetes-maternidade, para que sejam observadas diariamente. Esses piquetes devem estar localizados próximos às instalações onde haja movimento de pessoal durante maior parte do dia, de fácil acesso, com boa drenagem, providos de sombra e boa topografia, não possuindo valas ou brejos que tragam perigo ao potro, além de conter forrageiras de qualidade. Devem ser cercados com réguas de madeira e a tábua inferior deve estar a 30 cm do solo, para não permitir que o potro role para fora do piquete. As éguas são mantidas nesse piquete até o final do cio do potro, momento este onde são novamente acasaladas, iniciando uma nova gestação.

Saúde do rebanho

Atenção especial deve ser dada ao controle sanitário do rebanho. A infestação parasitária em grupos maiores de animais fica favorecida. As vermifugações e o controle de ectoparasitas (carrapatos) devem ser realizados de forma estratégica, intensificando o combate nas épocas de maior incidência. As vacinações também são de extrema importância, principalmente nas éguas gestantes. Vacinas contra raiva, tétano e garrotilho são rotineiramente utilizadas. Em éguas gestantes é interessante a realização de vacinas contra Diarréia dos Potros (Colibacilose) aos 60 e 30 dias antes do parto e contra o Aborto Equino a Vírus no 5º, 7º e 9º mês de gestação. Há necessidade de observações frequentes do estado de saúde dos órgãos genitais. Doenças do aparelho reprodutivo podem trazem grandes prejuízos.

A seleção para habilidade materna é de vital importância. Boas éguas devem ser férteis, boas produtoras de leite e boas mães. O período de maior habilidade materna ocorre entre os 5 e 14 anos. Éguas acima desta idade já não conseguem criar bem seus potros.

Fêmeas equinas atingem a puberdade em torno de 12 meses de idade. Então, a partir desta fase, devem ser isoladas dos machos para que não ocorra gestação indesejada, comprometendo o futuro desses animais. O início da vida reprodutiva deve acontecer após os três anos de idade, quando já se completou o desenvolvimento e a maturidade dos órgãos reprodutivos.

No início da estação de monta, as reprodutrizes devem ser alojadas em piquetes específicos, situados próximos às instalações destinadas à reprodução. Dessa forma, a observação diária dos cios e o manejo reprodutivo, principalmente de doadoras de embriões, fica favorecido. Na rotina diária de palpação retal, controle de folículo, lavagens uterinas e transplante de embriões, instalações seguras e confortáveis devem ser preconizadas. A higienização constante desse ambiente é essencial.

Devemos sempre proporcionar situações de saúde e bem-estar as reprodutrizes, para que essas contribuam de maneira efetiva para a evolução de nossos rebanhos. São acima de tudo mães e devem ser tratadas sempre com carinho e especial atenção.

Por: Tiago de Resende Garcia ( Médico veterinário e doutorado em Nutrição Animal pela UFMG, professor na PUC/Minas, árbitro e instrutor da ENA)