Potros recém-nascidos: Manejo e principais urgências

A época mais especial em um haras é sem dúvida o inicio dos nascimentos de seus produtos. Potros (as) são produzidos cuidadosamente durante a estação de monta, quer seja por acasalamentos feitos dentro do próprio haras ou mesmo pela inseminação vinda daquele garanhão famoso tão esperado, ou resultante de embriões adquiridos em leilões da raça.

No entanto, esta época de comemorações também pode tornar-se o período mais preocupante do ano, pois os J5 são frágeis e inspiram manejo apropriado. Muitos haras perdem seus mais valiosos produtos por deixar de observar com mais cuidado seus potros nos primeiros meses de vida.

0s recém-nascidos são mais susceptíveis às doenças e muitas vezes a demora na identificação de um problema e consequente atraso no atendimento pode ser fator crucial para o bem-estar e até mesmo para a manutenção da vida do seu potro.

Um mês antes da parição, as éguas devem ser levadas a um piquete-maternidade para que o parto possa ser acompanhado, e assim, ocorrer de forma mais tranquila. 0u seja, um piquete limpo, com boa pastagem, sem perigos aparentes (beira de rios e lagoas, matas, buracos entre outros), local plano de fácil acesso onde as pessoas possam ver as éguas paridas com facilidade. Muito cuidado com as cercas, pois algumas éguas podem parir próximo a elas e seu potro pode “cair” em outro piquete, não conseguindo voltar a ter acesso a sua mãe. Isso pode gerar desde a rejeição pela mãe como também uma série de problemas (não mamar o colostro, ficar preso a arames) e até mesmo o produto morrer de fome caso se passe alguns dias e ninguém note o problema.

As éguas de modo geral parem a noite ou de madrugada. Devemos observar se o período de parição se encontra dentro do período estimado pela data de cobertura, em torno de 11 meses (aproximadamente 310 a 365 dias). O atraso ou adiantamento desta data pode acarretar problemas de saúde ao recém- nascido.

O que se observar no recém-nascido logo após a parição?

– O potro quando nasce deve ficar de pé em até 2 horas após o parto e deverá mamar o colostro nas primeiras seis horas de vidas, pois as moléculas que conferem imunidade ao potro são grandes e absorvidas no epitélio do trato intestinal do equino durante as seis primeiras horas.
– Deve-se observar também se a mãe tem boa habilidade materna e deixa o potro mamar. Algumas éguas principalmente de primeira cria, podem rejeitar o potro. Outro caso que pode ocorrer é outra égua “roubar” a cria não deixando a mãe se aproximar, e com isso o potro não tem acesso ao leite nem ao colostro.
– Se o potro já possui reflexo de sucção 15 a 20 minutos após o nascimento (você pode colocar o dedo em sua boca e ele suga o dedo) e consegue mamar (se ele levanta e vai prontamente em direção à teta da égua e mama), se a égua adiantar o período de parição, o potro prematuro pode ter ausência deste reflexo e não conseguir mamar (muitas vezes também não fica de pé, pois potros prematuros são flácidos, fracos e quietos).
– Se parece sadio e reage a estímulos externos.
– Se a égua possui leite (observa-se a tentativa de mamar constante e o potro debilitado continua com fome).
– Se o umbigo se rompeu corretamente (ver se este não está sangrando e se rompeu completamente a placenta).
– Se há restos de placenta nas narinas e boca do potro (observar se não aspirou líquido e se respira normalmente).
– Se urinou e defecou (mecônio) nas seis a 12 primeiras horas de vida.
Potro com problema:
Veja se ele apresenta um ou mais dos sinais abaixo:
– Parece desconfortável quando parado;
– Apresenta corrimento nasal e/ou dificuldade respiratória;
– Escoicea o abdome;
– Aparenta inquietação;
– Apresenta andar curvado;
– Rola;
– Emite gemidos;
– Possui respiração acelerada com cabeça baixa;
– Apresenta inchaço em membros, tronco ou cabeça;
– Apresenta alteração nos parâmetros vitais.

O que devemos fazer?

Curar o umbigo com iodo 2 a 5% podendo colocar spray prata após o uso do iodo. Esta prática deve ser realizada pelo menos uma vez ao dia até a secagem e queda do umbigo.

Observar os parâmetros vitais e sinais de qualquer anormalidade. Caso se identifique um potro com problema, não demore a chamar um medico-veterinário, pois o atraso no atendimento pode ser crucial na manutenção da vida do mesmo.

Urgências veterinárias:

Caso o potro não mame o colostro ele corre o risco de ter baixa imunidade. Doenças bacterianas e virais (principalmente) podem surgir. Seu veterinário deve ser avisado para tomar as providências de imunização cabível, que podem ser realizadas com bancos de colostro, ou ordenhando outra égua que tenha parido na mesma época, oferecendo o colostro em mamadeira isto também vale para potros órfãos ou para aqueles casos em que a mãe rejeita o potro ou não tem leite. Há também os soros específicos caso já tenha se passado mais de seis horas.

Em caso de potros órfãos, após a ingestão de colostro deve-se realizar aleitamento artificial de hora em hora nos primeiros dias, espaçando este tempo de acordo com as recomendações veterinárias. Existem preparados comerciais á disponíveis no mercado e algumas receitas caseiras que funcionam muito bem desde que utilizadas nas quantidades corretas.

Caso o potro não defeque teremos uma urgência denominada retenção de mecônio que, se prolongada por muito tempo além de sinais de cólica, poderá acarretar o óbito .0s sinais da retenção mecônio de são: o potro levanta a cauda, tenta defecar e não consegue, fica irrequieto, prostrado, triste, ocorre aumento da frequência respiratória e pode apresentar sinais como olhar para o flanco, deitar e rolar, gemer e apresentar sudorese.

0utra urgência que pode ocorrer é a infecção de umbigo (0nfaloflebite) que ocorre principalmente quando há ruptura traumática da placenta ou ineficiência e/ou ausência da cura do umbigo podendo ocorrer também concomitantemente a “bicheira” no umbigo. Isto gera grave infecção, que pode se propagar para diversos órgãos chegando até mesmo a levar à Septicemia e ao óbito. 0s sinais são: inchaço (duro ou mole) no local e/ou sangramento do umbigo, que pode estar quente e/ou dolorido ao toque.

A infecção de uma ou diversas articulações não é incomum em potros. Chamada de Poliartrite Pode ser decorrente principalmente da 0nfaloflebite (infecção de umbigo), ou de outras infecções do organismo. O animal apresenta uma ou mais articulações inchadas, quentes e/ou doloridas, podendo ou não apresentar dificuldade na locomoção e claudicação (manqueira). O não tratamento pode levar desde a inutilização esportiva futura do animal como também à morte.

A aspiração de restos placentários e líquidos assim como aspiração de qualquer corpo estranho poderá levar a graves pneumonias. O descuido com animais recém- nascidos em áreas alagadiças, principalmente em períodos de grandes chuvas, também são responsáveis pelas mesmas. 0s principais sinais são: dificuldade respiratória, cansaço, aumento na frequência respiratória, tremores e sudorese, febre, perda de apetite, entre outros.

Devemos tomar muito cuidado com potrinhos com diarreia. Apesar de comum no final da primeira semana de vida (devido ao cio do potro), esta deve ser passageira e não muito aquosa. Diarreia fétida geralmente é de origem infecciosa. Ambas devem ser bem acompanhadas, pois os potros desidratam muito facilmente, podendo vir a óbito em poucas horas.

Qualquer sinal de anemia (coloração pálida das mucosas a icterícia-amarelamento) deve ser investigado com urgência. O jejum e doenças transmitidas por carrapatos são algumas causas e podem levar à debilidade e ao óbito em poucos dias. Raramente a icterícia pode ocorrer à alergia ao leite materno, chamada icterícia Hemolítica (ocorre de 6 à 24h após a primeira mamada). Neste caso, o potro deve retirado da mãe e arrumada outra forma de alimento.

Potros são animais curiosos; portanto, muita atenção, pois acidentes com animais peçonhentos podem ocorrer e quando comparado com animais adultos são ainda mais graves.

Muito comum hoje, é o uso de cães de pastoreio. Algumas raças são agressivas, podendo causar acidentes traumáticos e levar a infecções articulares por mordedura, que podem inutilizar atleticamente o potro no futuro. Por isso, tome cuidado no adestramento desses cães e no acesso aos potros.

Alguns potros nascem com desvios de aprumos, o que pode ser normal (geralmente isto acontece quando são simétricos) e isto se resolve espontaneamente com o passar dos meses, como as pinças dos cascos levemente para fora, que se normaliza com o crescimento e desenvolvimento corporal. Assimetrias leves unilaterais podem ou não se normalizar, mas já necessitam da observação de um especialista. Desvios graves de aprumos podem necessitar de imobilizações e até mesmo intervenções cirúrgicas. Consulte seu médico veterinário.

A manutenção da higiene assim como o controle parasitário é muito importante. É sempre bom lembrar que as fezes equinas contem bacilos do Tétano e, por isso, as matrizes devem estar vacinadas contra o tétano e as demais doenças que acometem os equinos (Raiva, Gripe, Encefalomielite, etc.). 0s potros devem ser vacinados a partir de quatro meses de idade ou na época da desmama (contra Tétano e demais vacinas tais como a quádrupla e antirrábica) a critério do veterinário que acompanha o plantel, que poderá lhe indicar o esquema vacinal mais eficaz em sua região. Antes deste período, deve-se observar qualquer acidente traumático perfurante, pois o acometimento por Tétano não é infrequente. O médico-veterinário deve ser contatado para realizar a imunização antitetânica apropriada.

Cuidados simples fazem da estação de nascimentos um período de muitas alegrias e é crucial na manutenção e melhora da qualidade de vida de seus futuros campeões.

Fonte: Kate Barcelos – Médica-veterinária, técnica de Registro Definitivo, instrutora de Equitação e Adestramento da ABCCMM/SENAR